Jogo Perigoso Cap. 36

É um pouco assustador saber o tamanho da influencia que ele tem sobre tudo e todos. Na maioria das vezes isso me assusta.
- Vamos comer alguma coisa?
- Gostaria de um chá.
- Esse café está ótimo. – O lugar parece aconchegante. É o tempo de eu me recuperar de tudo o que aconteceu agora a pouco.
- Um chá, por favor.
- Não vai comer nada? – Ele me encara.
- Não estou com fome.
- Eu vou querer um café e um bolinho desses com chocolate.
- Trago em um minuto, Senhor.
- Obrigado.
- Você precisa se alimentar melhor, Anastásia.
- Acho que já sou bem grandinha e posso cuidar da minha alimentação Cristian. – Eu não disse nada a ele, mas a verdade é que já não estou conseguindo comer direto faz um tempo. Já temos muito coisa com que nos preocupar e não quero que a minha alimentação vire uma prioridade a ele.
- Tudo bem Senhorita sabe tudo, vou relevar isso.
- Com licença. – Ele nos serve. Enfim alguém que não vá ficar olhando e babando para ele.
- Ana, tudo bem?
- Não sei, estou sentindo uma pontada muito forte do estomago.
- Pontada? Você está branca.
- Ai! – Aperto minha barriga. É uma dor horrível. – Cristian, está doendo muito.
- Ana! – É a ultima coisa que eu escuto.
Escuto algumas vozes ao fundo e sirenes tocando. O que aconteceu? Minha cabeça dói tanto que eu nem consigo abrir os olhos. Parece que fui atropelada.
- Cristian?
- Ana! Como você está se sentindo?
- Minha cabeça dói muito. Onde estamos?
- No hospital.
- Hospital? Por quê?
- Você passou mal, teve dores fortes no estomago.
- Eu não consigo me lembrar.
- Com licença. Anastásia, eu sou o doutor Steve e passei para saber como você está se sentindo.
- Um pouco melhor, mas estou confusa.
- Os resultados dos exames ficaram prontos?
- Sim Senhor Grey. Por isso eu vim. – Ele análise os papeis. – Bom, eu procuro ser bem claro com todos os meus pacientes Senhorita Steele.
- O que aconteceu doutor?
- Realizamos uma tomografia computadorizada e alguns raios- X. Infelizmente nesses exames realizados, foi localizado um adenocarcinoma. – Cristian levanta.
- Poderia ser mais claro, por favor.
- Um tipo de tumor Senhor Grey. – Meu mundo cai exatamente nessa hora.
- Tumor? Como assim tumor?
- Adenocarcinomas são um tipo de tumor maligno Senhorita Steele. O Senhor Grey me disse que ultimamente você não vem se sentindo muito bem e perdendo o apetite com facilidade.
- Sim, mas como isso foi acontecer?
- Ninguém sabe ao certo como o câncer surge Anastásia. O que sabemos é que o tratamento tem que ser iniciado o mais rápido possível.
- Isso não pode ser verdade, deve ter alguma coisa errada! – Cristian senta ao meu lado.
- Ana calma, eu estou aqui com você, você tem que se acalmar!
- Acalmar? Eu estou doente Cristian! Como quero eu me acalme?
- Anastásia, eu sei que você está aterrorizada com tudo isso, mas eu realmente não tenho tempo para pegar leve com você. Eu preciso ser o mais claro possível.
- Como vamos prosseguir doutor? – Eu não consigo ter uma reação. Não consigo filtrar o que está acontecendo.
- Senhor Grey, o câncer está no estágio dois. Temos quatro estágios e o que não podemos fazer é deixar que isso se avançasse para o estágio quatro, que é o câncer se espalhar para todas as áreas do corpo.
- O que é o estágio dois?
- O câncer continua crescendo dentro da camada muscular da parede do estômago. Dessa forma, ele pode se espalhar para os gânglios linfáticos. Devido ao tamanho do tumor não podemos realizar a operação de imediato, então vamos ter que começar com as sessões de quimioterapia.
- Remédios doutor?
- Por enquanto não vamos entrar com a medicação Senhor Grey. A não ser que ela sinta muita dor no inicio. – Ele se aproxima. – Eu sei que vai ser difícil e sei que o processo é longo. Mas tente pensar positivo.
- Obrigada doutor. – Tento esconder as lagrimas que insistem em cair sob o meu rosto, mas é difícil.
- Hoje é melhor passar a noite aqui. Amanhã bem cedo vamos fazer mais exames.
- Doutor, eu quero os melhores especialistas no caso.
- Estamos com uma equipe muito boa Senhor Grey, se quiser posso apresentar os médicos.
- Eu gostaria. Mas agora eu quero um momento com a minha namorada.
- Sim Senhor. Eu volto mais tarde.
A um momento eu estava tão bem, plena, idealizando tantas coisas ao mesmo tempo, tantos planos. Apesar de saber que meu relacionamento com ele não era tão estável. Agora estou aqui, sem expectativa de vida, sem poder fazer planos, sem saber o que o futuro reserva para mim.
- Cristian, eu quero ser muito sincera com você. – Ele segura minha mão.
- Eu sei que isso é um fardo enorme, um fardo do qual você pode não conseguir aguentar. Não quero que em nenhum momento você...
- Anastásia, não vou me afastar de você nem por um momento. Não importa quantas noites eu fique sem dormir, não importa pelo que eu tenha que passar.
- Você sabe que eu vou ter que passar por uma quimioterapia, que eu... – É difícil falar sobre o assunto, é difícil idealizar uma realidade diferente. – Que meu cabelo vai cair.
- Acha mesmo que eu estou preocupado com isso? Ana, quando eu digo que não importa o resto é porque não importa. Eu vou estar aqui e você vai ficar bem.
- Eu ainda não consigo acreditar Cristian.
- Eu daria a minha vida para você não ter que passar por isso. Mas você tem meu apoio, sempre.
- Eu jamais pensei que eu poderia ter uma coisa como essas. Eu nunca imaginei...
- Ei, você ouviu o que o doutor falou. Você é forte, vai se recuperar e passar por tudo isso.
- Cristian, tudo o que eu não sou é fantasiosa. Eu sei que a porcentagem de pessoas que morrem por causa desse câncer é muito grande.
- Você sabe que eu nunca fui de agarrar a opiniões formadas.
- Acho que preciso de alguns minutos.
- Ana... – Ele agarra a minha mão mais forte.
- Por favor, Cristian. Eu só preciso... Processar. – Ele faz um sinal de aprovação.
Todo mundo diz que tem um momento em nossas vidas, que paramos de verdade para refletir tudo o que foi feito. Como se fosse um filme com nós mesmos como protagonistas. Pois é, a hora do meu filme chegou. Quando se recebe um diagnóstico como esse, é como se sua vida começasse a escorrer sobre os seus dedos, sem que você possa fazer nada. Como se você soubesse que na verdade você não tem mais o controle da sua vida. Você está condenada, e de uma forma ou de outra, você sabe e tem a certeza de que essa doença que você carrega, pode ser o ponto final para todos os seus sonhos e planos. Para tudo o que você sonhou. O que mais me conforta, é saber que eu consegui ficar do lado do homem que eu amo de uma forma comum, por algum tempo, mas por um tempo tão pequeno. Um tempo em que não tive coragem de dizer o que eu realmente queria dizer. Um homem tão independente em suas próprias escolhas, um homem que sabe o que quer. Um homem que não pode ficar preso a uma pessoa que nem sequer sabe se estará viva amanhã. Não posso condena-lo a passar os seus dias comigo. Porque eu sei e tenho plena consciência de que alguns serão bem piores do que outros. Sei que não vou poder sair para qualquer lugar, pois não posso correr o risco de pegar nenhuma doença. Sei que não vou poder satisfazê-lo de nenhuma forma, pois não vou ter forças para isso. Eu acredito quando ele diz que quer estar ao meu lado, mas o mesmo tempo eu sei o quanto isso será um sacrifício para ele. Cristian e eu tivemos começos extremos. Formas de nos conhecer completamente diferentes do que outros casais. Vidas diferentes, pensamentos diferentes. Vamos de um extremo a outro. Cristian merece alguém que consiga dar tudo o que ele merece, mostrar a vida de uma forma que ele nunca viu. E eu, atualmente nessas condições nunca vou poder oferecer. Não posso condena-lo a uma vida sofrendo a me ver definhar aos poucos. Não posso condena-lo ao sofrimento, não o homem que eu amo.

A vida é difícil Anastásia.

Todos os provérbios e falas da minha mãe passam na minha cabeça como um livro. Todas parecem fazer tanto sentido agora. Talvez esse seja mesmo meu destino e eu devesse apenas deitar nessa cama e aceitar. Mas ao mesmo tempo, eu penso que tenho uma chance, assim como todas as outras pessoas tem. Só preciso parar e refletir um pouco. Sem pensar em nada e nem ninguém. Apenas em mim e no meu destino. Só eu posso decidir o que eu quero.