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Montserrat

 




CAPÍTULO 1 


O início de uma história. Confesso que me provoca um certo arrepio começar essa introdução, justamente porque estou iniciando depois de já escrever boa parte dessa história. Sim, é curioso. Eu já havia escrito e reescrito inúmeros inícios para que o ponta pé inicial fosse esplendoroso, mas cheguei à conclusão de que talvez seja melhor você tirar suas próprias conclusões.

— Não acredito que passou a noite fora outra vez? – Ela esbraveja pela casa como faz na maioria das vezes.
— Por favor, mãe, eu não preciso mesmo de um sermão a essa hora.
— Eu já estou cansada desse seu comportamento! Essa casa não é um albergue.
— Eu estava na casa da Jéssica. Se tem dúvidas pode ligar e confirmar.
— Você vai para a faculdade? – Fernanda Parker é nossa garota. Está cursando o último semestre de letras na UNICID em São Paulo. O pai todo poderoso Roberto Parker é um dos advogados mais famosos da cidade e como São Paulo é a cidade mais populosa do país e a maior da América Latina, podemos dizer que a popularidade dele já ultrapassou fronteiras. A mãe Claudia, além dos gritos matinais de rotina, também se dedica a árdua tarefa de coordenar os empregados dessa casa ridiculamente enorme para três pessoas apenas. 
Fernanda não se considera nenhum pouco membro da sua própria família, tudo porque seus ideais não são os mesmos. Quando vemos esse tipo de coisas em filmes, pensamos logo em um clichê não é mesmo? A filha rica que se recusa a aceitar o dinheiro da família. A grande questão é que não é que a Fernanda não aceita o dinheiro, ela apenas não gosta do jeito como o dinheiro influencia os caminhos de todos a sua volta. No meio de todo esse caos familiar, a única pessoa com quem Fernanda realmente pode contar é Jessica. Sua melhor e mais fiel amiga. 
Fernanda não tem grandes planos para depois da faculdade até mesmo porque já demorou uma eternidade até decidir que iria cursar letras. Esse negócio de teste vocacional... conversa! Isso nunca deu certo para ela e todas as vezes as opções eram as piores possível. Os pais sempre querem que os filhos sigam as mesmas carreiras e no caso da Fernanda, isso era certo. Roberto Parker era um homem teimoso e muito decidido, já havia até planejado qual faculdade a filha iria cursar, só o que ele não sabia é que ela não compartilhava do mesmo sonho.

A primeira aula do dia é com o Senhor Rodrigues. Estudos Literários. O nome soa interessante aos ouvidos de Fernanda. 
Vagabundos e sem nenhuma ambição na vida! Isso de ser escritor é uma bobagem. 
Essa é a frase que ela ouve todo o santo dia de seu pai desde que decidiu seguir esse curso. 
Um pedaço bem aproveitado do dia era como Fernanda costumava descrever as aulos do Senhor Rodrigues. Alvaro Rodrigues é um homem misterioso, mas ao mesmo tempo interessante eu diria. Eu o classificaria como o típico homem à moda antiga, pelo menos era o que aparentava ser. Não dava para saber muito sobre ele, apenas que se interessava muito por literatura Inglesa. Fernanda o imaginava mais como aqueles assassinos em série preso em forma de um professor inocente. Ah, isso é tão previsível.

Mas era a sua versão favorita dele. 
— Senhorita Parker? –Ele diz ajustando os óculos no rosto com o dedo indicador. 
— Senhorita Parker? – Ele repete. 
— Sim! Quero dizer, estou ouvindo. – Ela pula da cadeira. Fernanda não gostava de todos os olhos da sala voltados para ela. 
- Ótimo! Só queria me certificar de que a Senhorita estava aqui. — Ele retorna para a sua explicação. Fernanda concordava absolutamente com a filosofia de Thomas Hardy: A sociedade corrompe o ser humano. 
As pessoas estão tão preocupadas em ganhar o seu próprio dinheiro, que nem se importam em como isso será feito e nem por cima de quem terão que passar. Cada vez mais são atraídas por padrões de beleza, por roupas caras, propagandas de TV. Ninguém mais está satisfeito com a própria vida, ninguém mais quer viver somente de trabalho honesto, ninguém mais se contenta em apenas ter um salário e uma vida feliz com quem se ama. Na verdade, uma pequena correção a Hardy: A sociedade e o dinheiro corrompem as pessoas.

Nisso tanto minha personagem quanto eu temos em comum, pois admiramos a forma como as mulheres das histórias de Hardy são fortes e possuem personalidades. Elas trabalhavam, suavam, sentiam e eram capazes de lutar por seus próprios ideais, sem precisar estar na sombra de um homem para tal conquista.

—Vamos sair hoje à noite? – Jessica é a típica amiga baladeira. 
— Hoje não vai dar mesmo, Jes. Minha mãe está prestes a me matar. 
— Ah não, Fernanda! Hoje é sexta feira e você nunca fica em casa em uma sexta feira. 
— Talvez amanhã Jéssica, hoje é realmente impossível sair de casa. 
— Vou fingir que acredito em você.
Fernanda detestava quando sua mãe colocava os seguranças para ir busca-la na faculdade. Sinceramente isso é ridículo, ela entendia que o pai era uma pessoa importante, mas não achava que era necessário ter seguranças. Ela é o tipo de pessoa que jamais iria ostentar alguma riqueza ou qualquer outra coisa. 
A verdade é que a grande maioria das pessoas acham que a vida de uma pessoa que tem dinheiro é somente luxo, comprar o que quiser, comer o que quiser... O grande problema do dinheiro são as pessoas que ficam a sua volta quando sabem que você o tem. Sabe aquela famosa frase que fiz dinheiro não traz felicidade? Então, eu arriscaria dizer que Fernanda a inventou. 
Ela tenta ao máximo disfarçar a sua presença ali puxando todo o cabelo para traz em um rabo de cavalo e colocando a touca de sua blusa cinza de moletom. Isso deve servir para despistar o nosso Kevin Costner dos guarda costas. 
— Ei vagabunda! — Fernanda sente sua cabeça sendo arremessada contra a parede lhe causando uma dor lancinante.

— O que você quer? — Apesar de estar confusa por conta da pancada, ela sabe bem de quem se tratava. 
— Acha que pode sair assim sem dizer nada? — Fernanda desde sempre vivei sua vida de forma libre. Isso principalmente com relacionamentos. Ela não queria estar presa, ela queria apenas viver a sua vida, sem precisar dar satisfações para ninguém. Principalmente para um homem que conheceu apenas uma noite em uma balada qualquer. 
— Você está louco? Me solta! 
— Pois eu vou te ensinar que você só pode sair quando eu mandar! – Fernanda sente que ele a golpeou com alguma coisa afiada, mas ela não consegue prestar atenção o suficiente. A dor é sufocante, algo que ela nunca havia sentido. Sua visão fica absolutamente turva e ela já não tem mais forças. Fernanda caminhou o quanto pode, mas estava muito machucada. 
— Senhorita Parker! – Essa voz era familiar. 
— Senhor Rodrigues? – Ela o reconheceu mesmo com a visão turva. Afinal, não tem como esquecer alguém que sempre te chama de Senhorita... 
— Meu Deus o que fizeram com você! 

Ela abre os olhos, mas ainda não consegue assimilar onde está, a única coisa que tem certeza é de que não é a sua casa e nem um hospital. Ela vê duas poltronas de camurça pretas com algumas almofadas que com toda a certeza não combinam com o resto do contexto, mas não era hora para reparar tal coisa. Os olhos percorrem por todo o lugar e com toda a certeza ela nunca esteve ali. 
— Ei, calma. Não se levante ainda. – Em um momento de desespero ela se levanta. 
— Onde eu estou?
— Minha casa, ou melhor, meu apartamento. – Fernanda vê o curativo, mas ainda está confusa. 
— Merda... 
— Não se preocupe, o seu ferimento é superficial. — Ele está sentado em uma das poltronas pretas que estão bem a sua frente. O apartamento é extremamente pequeno ou também pode ser pelo fato de Fernanda estar acostumada a morar em uma casa muito grande. Dois extremos. 
— Não sabia que entendia de medicina. 
— Apenas o básico. Como se sente? 
— Um pouco tonta, mas bem. Eu gostaria de levantar-se um pouco. – Ele a ajuda a ficar mais confortável colocando uma almofada em suas costas. 
- Você... Gostaria de beber uma água? Eu acho que só tenho água agora... – Ele sorri e é exatamente nesse momento que ela senta algo em seu coração. Algo que ela ainda não sabia bem o que era, mas que a estava fazendo se sentir diferente. 
— Não se preocupe professor, eu estou bem. 
— Álvaro, por favor. – Fernanda percebeu que era mais fácil o deixar encabulado do que ela pensava. – Quero dizer, pode me chamar de Álvaro. Não estamos na faculdade então... 
— Claro, me desculpe. Eu posso fazer uma pergunta? – Com calma, garota.
— Claro. 
— Como você chegou aonde eu estava?
— Bom, eu vi quando você desviou do caminho do seu segurança e seguiu por aquela rua. Desculpe-me a intromissão, mas porque fugiu dele? 
— Eu não preciso de segurança para ficar atrás de mim. Aliás, eu odeio.... Você tem cigarro? – Ela já havia tentado por várias vezes largar o vício do cigarro, mas nada feito. O cigarro era como uma válvula de escape de tudo aquilo.
— Não, me desculpe, mas eu não fumo. – Ela deveria saber disso, não é muito difícil perceber. 
— Ah sim, claro. – Fernanda está constrangida, mas ao mesmo tempo curiosa para saber mais sobre ele. 
— Eu... Eu vou pegar uma água para você. – Fernanda não fica espantada ao ver a quantidade de livros na estante, mas sim pela falta de uma televisão na sala. 
— Você não tem televisão? 
— Não gosto muito de televisão, mas tenho uma no quarto. – Ele a entrega o copo. Tocando a ponta dos seus dedos nos dela. 
— Obrigada. – Fernanda está gostando da situação. Ela não se lembra qual foi a última vez que tinha deixado um homem tão constrangido dessa forma. 
— Achei que professores não tinham o costume de deixar a barba por fazer. – Ok, agora ela conseguiu realmente o deixar constrangido. Ele sorri, balançando a cabeça. – Desculpe, eu não queria constranger você. 
— Não se desculpe. Bom, eu gosto desse... estilo. – Ele fala a palavra estilo em um tom de ironia, como se essa linguagem não fosse adequada com o seu tempo. Ele tem um físico impecável, com toda a certeza deve se dedicar a atividades físicas. Afinal, não se espera outra coisa de uma pessoa não vê televisão e não tem muitos hábitos noturnos. Pelo menos não aparenta ter. Além da barba, também é adepto a não cortar o cabelo. O coque samurai lhe caí bem.
—Bom, eu agradeço muito por me trazer aqui, mas eu preciso mesmo ir.
— Claro, olha talvez você tenha que refazer esse curativo. 
— Não se preocupe professor, eu me cuidar. – Com toda a certeza ele viu que você sabe se cuidar muito bem. 
— Espere. – Ele tira o casaco. – Vista isso, sua blusa está toda suja de sangue não dá para sair na rua. 
— Muito Obrigada, na verdade eu preciso pedir mais uma coisa...
— Claro, pode falar. 
— Não diga para ninguém o que houve tudo bem? – Ele abre um sorriso o que já era um grande avanço. 
— Não teria o porquê dizer, quando eu cheguei lá já não havia mais ninguém. 
— Melhor assim. Bom, então eu já vou indo. – Fernanda não sabe como se despedir, será que um abraço seria demais? Mas também sair assim do nada seria falta de educação ainda mais sabendo que ele salvou a vida dela. 
Ela o abraça levante e no início ele fica completamente imóvel, mas depois ela sente seus braços sendo colocados em suas costas. Ó céus, eu sei o que se passa nessa cabeça quando surge esse olhar...Ele é professor e uma relação assim pode prejudicar tanto a carreira dele quanto ficar feio para você, Fernanda. Então, por favor, se recomponha. 
Ele a leva até a porta e mais uma vez o constrangimento da despedida. 
— Até logo professor. – Ela aceno. 
— Até logo, Senhorita Parker. Ah, não se esqueça de identificar se suas vacinas estão em dia, por conta da lâmina. – Ele pisca.

Ele apenas ofereceu ajuda para uma pessoa em uma situação em que qualquer um faria o mesmo. O máximo que Fernanda já havia conversado com ele foi em um debate em sala de aula. O que mais causa preocupação agora é no ferimento, pois se isso infeccionar ela pode ter problemas sérios e com toda a certeza não queremos isso. Ao pegar o celular ela vê várias chamadas perdidas de sua mãe e o que é mais sério do que o ferimento em si. 
— Fernanda Parker! Onde você está? Vitor ficou te esperando e me garantiu que você não saiu da sala!
— Porque eu não sai da faculdade, mãe. Eu fiquei para um grupo de estudos. 
— Hoje é o jantar dos amigos do seu pai aqui em casa. – Saco.
— Mãe... Está cansada de saber que eu não gosto desses jantares e além do mais, a minha presença não será notada. 
— Eu sei Fernanda, mas você já fugiu de uns três se eu não estou enganada. Sem desculpas! 
— Vou tentar chegar o mais rápido que puder.
— Estou esperando. 
Para que servem esses jantares especificamente? Para ficarem se exibindo uns para os outros mostrando quem tem mais dinheiro? Com certeza para a mãe o objetivo é mostrar para as suas amigas quais foram as joias novas que ela ganhou do pai. Se é que podemos chamar esses tipos de pessoas de amigas. 
Fernanda está esgotada. Esgotada de fingir que faz parte desse mundo, de fingir que está tudo bem quando na verdade nada está bem. Ela tem planos, terminar a faculdade de arrumar algum lugar para morar longe de tudo isso. 
— Até que enfim Fernanda! – Ela ignora o comentário.
— Eu chamei a Jessica e um amigo dela para vir aqui essa noite. 
— Amigo? Que amigo?
— Um amigo que nós temos em comum. Você vai conhecê-lo. – Ela odiava receber novos amigos da Fernanda em casa, mas procurava não deixar aparente. 
— Bom isso nem importa muito agora. Eu vou para o salão e volto a tempo de os convidados começarem a chegar. – Que novidade. 
— Eu vou para o meu quarto então é melhor que você chegue a tempo de começar a receber as pessoas. 
— Meu Deus, às vezes eu me pergunto se você é mesmo minha filha. 
— É eu também me pergunto isso. – Fernanda diz para si mesma. 
Fernanda está trabalhando em uma nova história, para ser mais específica, sua própria história. Ela está escrevendo alguns capítulos sobre a sua vida, mais ou menos como se fosse uma biografia, mas ela prefere dizer que são mais como pensamentos profundos sobre ela mesma e sobretudo o que cerca a sua vida. Quando eu escrevo é que como se eu estivesse aliviando a minha mente, como se eu pudesse tirar um pouco do peso que eu carrego no meu coração.

Ela vai até o banheiro e tira o curativo feito pelo professor. Enquanto tira os curativos, ela pensa sobre ele. É estranho pensar nele como sendo um amigo, já que em todos esses semestres ela nunca imaginou que ele seria a pessoa que a ajudaria em uma situação como essa. 
— Mais o que... – Fernanda não consegue acreditar no que seus olhos estão vendo. Sim, ele a costurou. Não foi um simples curativo, foi uma sutura! Seis pontos. 
Talvez sua filosofia sobre o assassino em série esteja certa. 
A teria do Assassino Em Série parecia a mais correta, porém ela procura eliminar esse pensamento. Ela limpa o ferimento e coloca um novo curativo. 
— Acho que isso vai servir. – O alívio de Fernanda é pensar que sua melhor amiga vai estar presenta na festa. 
— Ei, posso entrar? – Jessica enfia a cara na porta. 
— Você já entrou Jessica. – Ela ri. 
— Como você está? Sumiu a tarde toda só mandou aquela mensagem... 
— É... Eu precisei resolver uns assuntos. Onde está o Téo?
— Então, ele não pode vir. Está trabalhando acredita? – Isso sim é uma novidade. 
— Téo? Trabalhando?
— Pois é eu também fiquei assim. Falando nisso, eu tenho que conversar com você sobre um assunto sério. – Jessica segura suas mãos. 
— O que aconteceu?
— O Téo está trabalhando na boate 8K Night Club, aquela que fica no Tatuapé mesmo. 
— E tem algo errado nisso?
— Ele me disse que estão precisando de dançarinas. 
— Ainda não entendi. 
— Daí eu pensei que poderíamos nos candidatar! – Ela pirou. 
— Dançarinas de boate? Você ficou maluca, Jessica?
— Qual é Nanda! Estamos precisando de dinheiro. Você não aceita nenhum centavo do que o seu pai tem mesmo. – Fernanda não sabia ao certo sobre os negócios de seu pai e ela tinha uma certa desconfiança dele. 
— E nem vou aceitar! É só que... Dançarina de boate?
— Um trabalho como outro qualquer. 
— Não estou desprezando, só não sei se é uma boa ideia. 
— Você não vai ter que dormir com ninguém se isso for uma preocupação. Não pensei que você fosse tão careta, Fernanda. 
— Tudo bem! Tudo bem, eu aceito. – Jessica pula sobre ela. 
— Então isso é um sim?
— Eu aceito, mas só até não conseguirmos encontrar outra coisa tudo bem?
— Fechado! Vou falar com o Téo e dizer que amanhã mesmo começamos a nos apresentar. 
— Horário?
— Temos que estar lá a partir das onze horas. 
— O problema disso tudo é como vou sair de casa todos os dias esse horário.
— Eu pensei nisso também. No começo você vai ter que inventar qualquer coisa, mas depois podemos arrumar um apartamento para nós duas, o que acha?
— É tudo o que eu mais quero. – Fernanda era bem reservada nas questões pessoais, eu não sei se daria certo morando com Jessica, mas não custa tentar não é mesmo? 
— Fernanda? – Essas batidas na porta só podem ser de uma pessoa. Mãe. 
— Está pronta para a tortura? 
— Sempre Senhorita Parker. – Por alguns estantes ela se lembra do abraço dele. 
— Você parece até o Senhor Rodrigues falando assim. 
— Senhor quem? 
— Senhor Rodrigues Jessica, professor de estudos literários...
— Nossa, eu não sabia nem de quem você estava falando. – Ela ri. 

A maioria dessas pessoas são completos desconhecidos que nunca estiveram aqui antes. Isso é tão absurdo, a grande maioria da população mal tem o que comer dentro de casa e eles gastando dinheiro dando comida e bebida para essa gente interesseira. 
— Boa noite, Parker. – Essa não... Um dos filhos dos sócios. 
— Toni. – Ela diz sem o menor entusiasmo. 
— Eu soube que está quase terminando a faculdade...
— É ainda falta um semestre. 
— Isso é incrível, mas o que me espanta é o fato de não ter feito direito, como o seu pai. 
— Querido, deixa eu só esclarecer as coisas para você. Eu não sou um fantoche dos meus pais. Tenho uma opinião muito bem formada sobre o que eu quero fazer da minha vida, então se você me der licença, seu ego está ocupando muito espaço. - Touchdown
— Por isso que eu gosto de vir nessas festas! Eu me divirto vendo você acabar com todos esses mauricinhos ridículos. 
— Não faz ideia do esforço que eu estou fazendo para me manter aqui. 
— Então por que não vamos embora? – Ela cochicha. 
— Seria uma boa ideia, e acredite se quiser ir eu te livro imediatamente desse compromisso. 
— Sabe que eu jamais te abandonaria em uma hora dessas...

Apesar de estar ao máximo tentar disfarçar, Fernanda não consegue deixar de pensar o que ele pode estar fazendo nesse exato momento. Com toda a certeza não deve estar vendo TV. Lendo um bom livro talvez, tinha alguns interessantes na sua estante...
— Ei! Fernanda? – Ela estala os dedos em sua frente.
— Desculpe, me desculpe...
— Nossa! Você estava viajando mesmo!
— Jessica, eu preciso contar uma coisa que aconteceu. – Eu sabia que ela não ia conseguir ficar com a boca fechada. 
— Aconteceu? Como assim? – Ela a puxa para o escritório sem que ninguém veja. Portas fechadas? Então vamos lá! 
— Ok Fernanda, você já conseguiu me assustar. 
— Lembra que você tentou falar comigo hoje à tarde e eu disse que estava resolvendo umas coisas?
— Sim. – Fernanda levanta a blusa para que ela veja o curativo. Isso será interessante... Você não adora ver a reação das pessoas diante de uma situação espantosa? 
— Ai meu Deus! – Ela grita. 
— Cala a boca! Quer que alguém escute?
— Você está ferida? O que aconteceu?
— Calma eu vou explicar. Lembra do homem que eu fiquei na boate na noite anterior?
— Acho que sim, mas o que ele tem a ver com isso?
— No dia seguinte eu peguei minhas roupas e dei o fora, você sabe como eu sou. A hora que eu saí da faculdade ele me encurralou no beco. Eu não sei de onde ele veio e nem como descobriu que eu estudo lá. Ele me golpeou com alguma coisa. 
— Fernanda, isso é muito sério! 
— É eu sei... 
— Você estava no hospital? 
— Na verdade não. O professor Rodrigues me salvou. – Jessica começa a rir incontrolavelmente. Eu não a culpo, essa situação é completamente insana.
— Por que você está rindo?
— O professor Rodrigues... Aquele que você lembrou ainda agora?
— Ele mesmo. Ele me levou para a casa dele e fez o curativo. 
— Por que ele não te levou ao hospital, Fernanda?
— Jessica você não pode contar para ninguém sobre isso ouviu? – Você nem deveria estar contando nada para começar. 
— Eu jamais contaria. Fico feliz que confiou em mim. Você deveria ir a um médico, como sabe que isso não está infeccionado? – Ela nem ao menos deu ouvidos para a história da vacina. 
— Eu estou bem acredite.
— Então quer dizer que agora que você e o professor são íntimos? 
— Íntimos? Obvio que não! Ele apenas me ajudou porque me viu seguir por aquela rua. 
— Não está a fim dele está?
— Você está louca? – Quando a pessoa diz isso é porque tecnicamente já está. Qual é Fernanda, até quem já chegou nessa parte da leitura já sabe que você está a fim dele. Vai negar para a melhor amiga? 
— Ah, até que ele não é de se jogar fora. – Opa...
— Nem por um momento isso passou pela minha cabeça. Além disso, é o meu professor, é mais velho do que eu... Olha, esquece isso tá? – Caro leitor, não vamos esquecer isso combinado? Talvez podemos usar como arma um pouco mais para frente.
— Ele ficou sem camisa ou algo do tipo?
— Jessica, por favor! – Eu adoro o senso de humor dela. 
— Desculpe, desculpe... É que eu sempre achei que por debaixo daquele jeito tímido... – Porque as pessoas sempre acham que os tímidos são devassos? Eu sempre me pergunto isso...
— Para... Você está ficando maluca de vez. 
- Tudo bem, vamos esquecer isso, eu estava apenas brincando. O professor Rodrigues é careta demais até mesmo para você que gosta de homens digamos... Exóticos. 
— Vamos sair antes que a minha mãe resolva me perseguir de novo. 

Depois da noite completamente tediosa, finalmente ela consegue a tranquilidade de sua cama. A única coisa que passa em sua cabeça é a proposta de ser dançarina. Não é o que ela pretendia fazer, mas por enquanto vai ajudar muito. Fernanda nunca quis aceitar dinheiro do pai para fazer as próprias coisas, por isso acaba fazendo alguns bicos de garçonete no restaurante de um amigo. Às vezes temos de tudo e mesmo assim sentimos um vazio enorme no peito, isso acontece muito, bem mais do que imaginamos. Uma pessoa as vezes tem muito pouco para sobreviver, mas em compensação é feliz com a vida dela, com as escolhas, com as pessoas que a cercam. A vida é assim. Precisamos procurar dar valor para o agora, para as coisas que temos agora e quando eu digo coisas que temos, eu não me refiro a bens materiais e sim a sentimentos, pessoas. 
Da cama ela consegue ver o casaco dele jogado na poltrona. Será que já foi casado? Será que tem algum tipo de vida social além da faculdade? Ela sabe que ele não é de ficar jogando conversa fora com os professores, pois já o viu várias vezes almoçando sozinho na cantina. O que faria com que ela se interessasse por ele? Eu particularmente adoro fazer esse tipo de análise.
Ela fuma, ele já confirmou que não. Ela gosta de sair e passar as noites fora de casa, seja bebendo, com os amigos ou com algum carinha. Com toda a certeza do mundo ele nunca esteve em uma balada. Ele é extremamente tímido, e ela completamente o oposto. Agora pontos positivos, ele gosta de livros assim como ela, é mais velho com certeza, o estilo social combina com ele apesar de tudo, os óculos são legais e o cabelo combina com ele. E o ponto mais forte é a barba. Bom, até que tem mais coisas favoráveis do que negativas você não acha?
Só que infelizmente essas ideias só passam pela cabeça dela, isso jamais poderia dar certo. Ainda mais ele sendo tão reservado e principalmente por ser seu professor, isso seria completa falta de ética. 
Ela precisa pensar em um jeito de devolver esse casaco, só não pode fazer isso na faculdade, pois com toda a certeza do mundo geraria comentários completamente inúteis. 



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